quarta-feira, 22 de maio de 2013

Módulo Intermediário - Aula 18 - Composição e Enquadramento

Muito já foi falado aqui no blog da parte técnica da fotografia. Só não podemos esquecer que além das regras técnicas, ela também tem suas regras artísticas, de Composição e Enquadramento. Vamos conhecer algumas!


De nada adianta tirar uma foto com a melhor câmera do mundo, com o maior sensor e a mais alta resolução possível, se ela estiver mal composta ou com um enquadramento ruim. É na hora de compor e enquadrar que você diferencia um fotógrafo de verdade de alguém tentando se passar por profissional, portando uma câmera caríssima em mãos, porém munido de pouco ou nenhum conhecimento artístico.

Até certo ponto, é possível "burlar" a falta de conhecimento técnico, uma vez que as câmeras e seus respectivos acessórios estão cada vez mais avançados e eficientes nos recursos automáticos. Porém, compor e enquadrar bem, são coisas que nenhum equipamento faz por você automaticamente.

Por melhor que seja, nenhum equipamento jamais virá equipado com um "olhar fotográfico". Essa parte depende exclusivamente do fotógrafo, independente do equipamento utilizado. É como dirigir: você pode até ter um Bugatti Veyron Super Sport, cheio de regalias e recursos especiais, mas se não souber nem mesmo como estacionar o carro, não faz nenhuma diferença entre ter um desses ou um Fusca 1960.

Antes de conhecer qualquer regra de composição ou enquadramento, é importante saber o que cada denominação significa e como fazer bom uso delas.

Composição

Composição é a união de todo o conjunto de decisões que você toma para formar a foto. "Que tipo de lente eu uso e para qual finalidade? Quais elementos ficam e quais saem da cena? Quais vão ficar em evidência e quais não vão? Uso flash ou não? Deixo o fundo borrado ou aparente? Em qual parte da cena eu posiciono o assunto principal?" Ao tomar estas e várias outras decisões, você está compondo a foto. Uma boa composição está diretamente ligada a um bom enquadramento.

Enquadramento

Enquadramento é o posicionamento dos elementos que você faz na cena a ser fotografada. "Uso a câmera na orientação Paisagem (horizontal) ou Retrato (vertical)? Me posiciono mais pra direita ou mais pra esquerda? Posiciono a câmera em um ângulo mais alto, igual, ou mais baixo em relação ao assunto principal? Fecho mais o ângulo (distâncias focais maiores) ou abro mais (distâncias focais menores)?" Ao fazer estas e outras escolhas do gênero, você está enquadrando a foto.


Pensando Fotograficamente

A princípio pode parecer difícil fazer várias escolhas e tomar tantas decisões rapidamente, para produzir cada foto. Mas até que o seu cérebro aprenda a "pensar fotograficamente", é assim mesmo: demora. Quando tiver bastante tempo livre, escolha um assunto para fotografar (de preferência algo estático, como uma flor, pois as pessoas normalmente se cansam com testes demorados) e concentre-se apenas nele.

Gaste pelo menos uns 30 minutos para pensar e fotografar as dezenas de resultados diferentes que você pode conseguir do mesmo assunto, fazendo pequenas variações de enquadramento e composição em cada foto. Depois, com todas as fotos feitas já descarregadas no computador, tire mais uns 30 minutos para analisá-las detalhadamente, uma por uma.

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Veja o que ficou bom e o que não ficou. Pense no que pode ser usado em outras situações similares e no que deve ser evitado. Permita-se autocriticar, para avaliar onde acertou e onde errou na composição e no enquadramento de cada foto. Faça esse exercício várias e várias vezes, se focando em um assunto diferente cada vez que for fazer.

Tirando 1 hora por dia para todo o processo e repetindo o ciclo pelo menos umas 3 vezes por semana, em poucos meses você vai adquirir um "pensamento fotográfico" extremamente rápido. O que antes levava 10 minutos para pensar e fazer as melhores escolhas, após esse treinamento, provavelmente você não vai levar mais do que alguns poucos segundos.

Agora vamos conhecer algumas regras que ajudam bastante nas nossas decisões.


O Horizonte

Horizonte é a linha divisória horizontal que separa o céu do solo ou do mar. Uma paisagem bem composta sempre tem a linha do horizonte completamente reta (ângulo de 0º do início ao fim). Por menor que seja a angulação, se não estiver completamente reta, ela transmite ao observador a desagradável sensação de "estar caindo" para o lado mais baixo da linha.

Observe na imagem comparativa abaixo como uma pequena angulação de 3º desta linha, já destrói completamente a harmonia da composição na paisagem:

Embora seja possível consertar um horizonte torto facilmente com programas de edição, procure sempre já fazer a foto com a linha completamente reta diretamente na câmera, pois consertá-lo geralmente implica na eliminação de uma parte da imagem. Inclusive, algumas câmeras já vem com a função "Horizonte Virtual", a qual é muito útil para se certificar que a linha não vai ficar torta.

  

Regra dos Terços

A Regra dos Terços consiste em traçar duas linhas imaginárias horizontais e duas verticais sobre a foto, de modos que elas se cruzem. Com as linhas cruzadas, a foto é dividida em 3 partes (terços) horizontais e 3 verticais, o que resulta em 9 quadradinhos iguais (3 x 3 = 9). Daí o nome Regra dos Terços, pois as linhas geram divisões na foto em terços horizontais e verticais. Confira o processo de divisão na imagem animada logo acima.

Felizmente, estas linhas podem deixar de ser imaginárias e se tornarem reais. A maioria das câmeras atuais oferece a opção de ativar e desativar as linhas guia da Regra dos Terços. Nas câmeras com o sistema em Português, geralmente este recurso é chamado de "grelha de enquadramento", "grade de enquadramento", "melhor enquadramento", "linha grelha", "guias", ou algo do tipo. Consulte o manual de instruções da sua câmera para saber como ativar.

As linhas horizontais, tanto a inferior quanto a superior, podem ser usadas como guia de posicionamento do horizonte no enquadramento. Ao contrário do que muita gente pensa, nem sempre posicioná-lo no extremo centro do enquadramento garante a melhor composição.

A regra geral de posicionamento do horizonte é a seguinte: se o céu estiver mais interessante do que o solo/mar, posicione-o na linha horizontal inferior. Já se o solo/mar estiver mais interessante do que o céu, posicione-o na linha horizontal superior. Dessa maneira você dará um maior destaque para a parte mais interessante da paisagem.

Na foto acima, por exemplo, o céu estava com nuvens bonitas e cheias de detalhes. Já a parte do solo continha apenas um vasto campo verde com tonalidades e texturas homogêneas em toda a sua imensidão. Nesse caso, optei por dar prioridade ao céu, posicionando o horizonte na linha inferior, de acordo com a grade da Regra dos Terços.

Já nessa outra foto, o céu estava com poucas nuvens, quase completamente limpo. Ou seja, bastante sem graça. Não seria nada interessante dar prioridade à ele nesse caso, sendo que logo abaixo haviam detalhes muito mais interessantes: belas rochas com diferentes tamanhos e texturas, além da água do mar com outros detalhes formados pela espuma. Nesse caso, optei por dar prioridade ao mar, posicionando o horizonte na linha superior.


Se o céu e o solo/mar forem igualmente interessantes, ou mesmo igualmente "tediosos" (com poucos detalhes chamativos em ambos, como é caso da foto acima), nesse caso a regra pode ser quebrada, podendo posicionar o horizonte bem no centro do enquadramento.

Lembrando que as linhas horizontais não são somente úteis como guias para o posicionamento do horizonte, mas para qualquer linha horizontal aparente que se pretenda manter completamente reta na foto.

As linhas verticais também podem ser usadas como guias no enquadramento. Experimente utilizá-las para garantir a retidão de assuntos maiores verticalmente do que horizontalmente, como prédios, casas, torres, portas, etc.


Pontos de Ouro

Os 4 lugares onde as linhas horizontais se cruzam com as verticais, são chamados Pontos de Ouro. Os Pontos de Ouro representam as áreas de maior interesse na foto para o observador. Você já vai entender porque.

Como foi a sua ordem de "leitura" da imagem acima? Por acaso foi assim?

Primeiro você fitou muito rapidamente (apenas alguns milissegundos) o quadradinho preto no centro da imagem, pois a tendência do nosso cérebro é sempre usar o centro da imagem como "ponto de referência", para definir a próxima direção pra onde olhar. Depois, provavelmente você foi seguindo o olhar conforme mostram as setas na imagem acima. Correto?

Se eu acertei, saiba que não é nenhuma mágica ou pegadinha, são apenas padrões cognitivo-comportamentais que os seres humanos tem em comum. Cerca de 98% dos ocidentais que sabem ler, seguem exatamente o mesmo caminho como ordem de leitura. Os 2% restantes correspondem a pessoas que, por alguma razão, possuem padrões cerebrais diferentes do comum.

Desde crianças, quando aprendemos a ler, seguimos pelo resto da vida esta mesma ordem de leitura: da esquerda para a direita e de cima para baixo. Porém, como eu disse antes, a primeira tendência do nosso cérebro é usar rapidamente o centro das coisas como ponto inicial de referência de direção, para depois seguir a ordem padrão de leitura/observação. Este conflito acontece especialmente em nossa "leitura" de imagens.

Com este conflito de tendências agindo em conjunto no nosso cérebro, a observação de imagens geralmente acontece da seguinte maneira: primeiro usamos o centro dela como ponto de referência rápida de direção. Depois, com a referência devidamente assimilada, nosso olhar sai do centro e vai se conduzindo na direção Noroeste, até se deparar com uma informação relevante.

Por que Noroeste? Simples. Como eu disse, a nossa ordem de leitura é da esquerda para a direita e de cima para baixo. Sendo assim, o ponto inicial de leitura esperado, é sempre o canto superior-esquerdo.

Esquerda (Oeste) + cima (Norte) = superior-esquerdo (Noroeste).

Continuando o exemplo baseado na "leitura" da imagem com o quadradinho preto e as palavras: após tirar os olhos do centro (quadradinho preto), seu olhar foi se movendo na direção Noroeste. Só que antes de chegar ao ponto inicial de leitura esperado (canto superior-esquerdo), uma informação relevante foi encontrada (a palavra "VOCÊ"). Seu olhar parou, se concentrou na informação e tentou absorvê-la. Então, seu cérebro começou a processá-la.

Após processar e compreender esta informação, seu cérebro "ordenou" aos seus olhos que não continuassem na direção Noroeste à partir daí, mas sim Leste (direita). Quando você processa a primeira informação relevante compreensível, seu cérebro atribui a ela o ponto inicial de leitura.

Então, a ordem seguinte não é mais conduzir o olhar para o ponto inicial esperado (canto superior-esquerdo), mas sim seguir na próxima direção da ordem de leitura (direita), uma vez que o ponto inicial foi encontrando antes do esperado.

Seguindo a ordem, o olhar se conduz para a direita e localiza a próxima informação relevante (a palavra "LEU"). Em seguida, o olhar se conduz na direção Sudoeste e se depara com a próxima informação relevante (a palavra "NESTA"). Depois, o olhar se conduz novamente para a direita e localiza a última informação relevante (a palavra "ORDEM").

As palavras "VOCÊ", "LEU", "NESTA" e "ORDEM" foram os 4 pontos de maior concentração do seu olhar na imagem, e consequentemente os de maior interesse para o seu cérebro. Só após processar as informações destes pontos que o seu olhar se desviou para as outras partes da foto, como os cantos contendo a frase "Só depois você leu aqui".

Agora, você sabe dizer em que parte da imagem estavam posicionadas as 4 palavras na qual o seu olhar mais se concentrou?

Se respondeu nos Pontos de Ouro, bingo! Você acertou! Por isso que os 4 Pontos de Ouro são áreas de referência tão importantes na foto para o observador: elas atraem muito mais atenção do que qualquer outra. O exemplo que eu dei foi com 4 palavras, para poder ilustrar melhor como funciona o conflito entre o nosso método de localização de direção e o nosso sentido de leitura, mas o posicionamento de partes de maior destaque nos Pontos de Ouro funciona igualmente bem para imagens que não contém palavras.

Se você não entendeu completamente, ou mesmo não entendeu absolutamente nada desta parte científica, não se preocupe. Só achei interessante explicá-la detalhadamente para os mais curiosos (assim como eu), que além de gostarem de saber como as coisas funcionam, também querem saber o porquê delas funcionarem de determinada maneira. Se você apenas lembrar que é interessante posicionar nos Pontos de Ouro as partes da cena onde quer se dar maior atenção, já é o suficiente.

Não é necessário usar sempre todos os 4 Pontos de Ouro. Geralmente, usando apenas 1 deles para posicionar a área mais importante da foto, já é o suficiente para melhorar bastante a composição. Vamos a um exemplo prático.

Que atire a primeira pedra quem já não teve (ou provavelmente ainda tem, até agora) a séria tendência de sempre posicionar o retratado no centro do enquadramento.

Certo, não é algo completamente errado. Em algumas situações até cai bem, mas repetir o mesmo enquadramento em todo santo retrato que se faz (especialmente os que são feitos na orientação Paisagem), os faz parecer um pouco cansativos, não acha?

Como você deve saber, os olhos são a parte mais chamativa do retratado. Portanto, olhos e Pontos de Ouro é uma combinação perfeita para enquadramento em retratos.

Observe como uma simples mudança de enquadramento no retrato anterior, posicionando o olho da retratada em um Ponto de Ouro, faz toda a diferença. Antes a foto parecia cansativa, muito comum, mas agora ficou muito mais interessante!


Na orientação Retrato (vertical), a Regra dos Terços e os Pontos de Ouro são igualmente válidos.

Até mesmo as fotos mais simples podem se tornar interessantes, posicionando um ou mais Pontos de Ouro em lugares estratégicos.
 
Vamos agora a mais algumas dicas rápidas de composição.


Contraste e Destaque



Não é confuso quando você observa uma foto e não consegue entender exatamente o que o fotógrafo quis mostrar? Então, este é exatamente o caso da foto à esquerda. São várias folhas e galhos emaranhados, com pouquíssimo contraste entre cada elemento disposto na foto. Além disso, não há ênfase em nada de especial. Não tem como definir qual elemento é o assunto principal da foto.

Se a ideia principal da foto é mostrar folhas, por exemplo, por que não mostrar mais detalhes deste assunto em específico? Na foto à direta há destaque total para o assunto principal pretendido: uma folha. Além disso, podemos observar que há muito mais contraste entre luz e sombras e entre assunto principal e fundo.

Em suma, sempre dê destaque ao assunto principal nas suas fotos. Faça ele contrastar com o fundo. Deixe claro pro observador qual elemento é "a estrela" da foto!


Espaço Negativo



Resumidamente, podemos dizer que Espaço Negativo é a área da foto com pouca ou nenhuma informação, como um fundo homogêneo suave ou de uma única cor. Enquanto o contrário, Espaço Positivo, são os elementos que ficam em total evidência. Fotos com bastante espaço negativo geralmente ficam ótimas com um único elemento presente (como é o caso das duas fotos acima). Este tipo de composição aliada a Regra dos Terços e os Pontos de Ouro sempre rende fotos maravilhosas!


Linhas Guia

Como o próprio nome sugere, linhas guia são as linhas aparentes na cena, as quais servem como guias para conduzir o olhar do observador para o assunto principal da foto. Linhas são facilmente encontradas em várias coisas, como fios, paredes, pisos e nos mais diversos objetos. Use-as a seu favor, de modos que elas aparentem estar apontando para o assunto principal.


Perspectiva



A perspectiva nos dá a sensação de estar "andando" pela foto, pois conduz o olhar do observador do início da foto até o ponto de fuga, onde todas as linhas convergem. Ela também nos transmite uma sensação de equilíbrio e ordem, como se tudo estivesse em seu devido lugar.


Texturas



Mesmo coisas aparentemente desinteressantes, como cascalho ou tábuas de madeira, podem render boas fotos de suas respectivas texturas. A textura nos mostra o aspecto, a forma e o tamanho de uma superfície. Para deixar as texturas mais destacadas, procure usar uma iluminação mais dura, assim as sombras ficarão marcadas, dando uma aparência mais tridimensional.


Agora que você conhece algumas regras artísticas da fotografia, use e abuse delas! Porém, não esqueça da regra principal, que se sobrepõe a todas as outras: conheça as regras, para saber como e quando se deve quebrá-las. É verdade que estas regras geralmente ajudam a melhorar a composição de grande parte das fotografias, mas não de todas. Se sentir que a sua foto pode ficar melhor sem fazer uso delas, então não use! Siga as regras, sim, mas acima de tudo, priorize o seu "feeling" do momento.

Até a próxima aula!

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